quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Segredo de Arlete (2ª parte - final)

Mesmo sabendo que não existem perspectivas de cura para os seus filhos, Arlete procura se manter atualizada sobre todos os procedimentos necessários ao tratamento, na tentativa de tornar o dia a dia deles mais saudável. “Antigamente tinha uma fisioterapeuta que vinha em casa, mas na ausência de um especialista eu faço o que posso”, afirma. “Eles andam de triciclos, se exercitam, e cada um tem suas pecinhas de montar para auxiliar na coordenação”.

Além disso, explica ela, todas as terças-feiras os jovens freqüentam a Escola Eloísa Assumpção, em Osasco, que tem como objetivo desenvolver atividades para integrar os deficientes à sociedade. Apesar de ver progressos no tratamento de seus filhos, a dona de casa percebe que os professores têm dificuldades para lidar com eles. “O fato de possuírem duas deficiências – motora e visual – os impede de realizar algumas atividades na quadra e na piscina”, afirma, acrescentando ainda que outros locais não os aceitam por já terem idades avançadas.

Mas se na escola os irmãos têm problemas para executar as tarefas desempenhadas pelos outros colegas, dentro de casa o potencial deles pode ser notado com mais clareza.

Ao observarmos melhor o ambiente, encontramos uma pilha de cadernos encostada próxima à porta. “Sim, eles desenham”, afirma Arlete, ao perceber a nossa surpresa.

Os pequenos rabiscos que seguem pelas páginas dão a impressão de tomarem formatos reais, mostrando o poder de imaginação dos jovens, ao tentar reproduzir o mundo invisível aos seus olhos.

Mesmo sem nunca ter visto um elefante, por exemplo, Jefferson conseguiu desenhar o animal. “Quando eu falo o que eles são capazes de fazer ninguém acredita”, conta Arlete. Orgulhosa, ela afirma que até mesmo os professores ficaram impressionados com a capacidade dos filhos, em uma visita que fizeram à sua casa recentemente.

Além de funcionar como uma eficaz terapia alternativa, os desenhos para eles são como uma grande brincadeira. “O dog black é meu, o dow white é da Ludmila e o dog cat é do Wellington”, diz Jefferson, já mais à vontade com a nossa presença.

Convivência amorosa

Em todos os momentos de nossa conversa, Arlete está rodeada pelos filhos. Como acontece na maioria das famílias, o caçula parece ser o mais paparicado pela mãe. “Não vendo, não troco, não dou”, diz ela, ao mesmo tempo em que lhe dá um abraço apertado.

Ela lamenta que cada vez mais as mães estejam deixando de dar atenção aos filhos, preocupadas somente com as atribulações do dia a dia e as dificuldades da vida conjugal. “Elas até ajudam a trocar de roupa, alimentam, dão assistência, mas a gente percebe que falta alguma coisa”, diz. “Eu sempre digo que é difícil, mas não impossível”.

Arlete conta ainda que costuma realizar todas as tarefas de casa sozinha, enquanto "as crianças" estão dormindo, sobrando-lhe pouco tempo para o seu próprio descanso.

Após passar por inúmeros percalços nessa longa caminhada, a dona de casa não se importa em abdicar de sua própria vida para zelar pelos filhos, e revela o segredo que a leva a estar sempre de bem com a vida. “Todos os dias eu acordo cedo, troco eles (sic), dou café, levo pra passear, dou medicação, converso, e com isso me sinto realizada”.

Adriana Póvoa
Fábio Guedes
Kátia Izawa

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